terça-feira, 27 de julho de 2010

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"De repente, voltam a encontrar-se. Uma troca de olhares e descobrem que algo muito forte ainda os liga. Resolvem ficar juntos. São antigos casais e namorados a reclamar o direito a uma segunda oportunidade.


Independentemente das razões que os levaram a divorciar-se, muitos sentem vontade de voltar a unir-se à mesma pessoa com quem viveram uma história de amor. E de desamor. Algum tempo depois, por vezes anos, um encontro casual junta-os, tornando possível o reconhecer que “algo ou alguma coisa” continua presente e a “chamá-los” um para o outro.



Não há volta a dar! Também não é raro namorados do passado e pessoas que tinham vivido uma breve paixão um pelo outro, por vezes na adolescência, recomeçarem a dar forma a uma relação. Que, no último caso, foi apenas sonhada.


Como explicar esta atracção por uma pessoa que já fez parte do passado? Nestes casos, o que acontece é o redescobrir do outro. É o que garante o psicólogo e psicoterapeuta Alexandre Nunes de Albuquerque. E o redescobrir do outro ocorre porque “com a evolução do tempo e a maturação ou maturidade individual, as pessoas foram-se redescobrindo na própria vida”, explica, acrescentando que, ao que parece, “quando passamos por este processo maturacional e individual, também conseguimos olhar para o outro como se ele fosse, de facto, outro”. E no fundo é, embora sendo a mesma pessoa. Ambos estão diferentes do que eram, sendo os mesmos. A possibilidade da relação tem lugar quando “há a capacidade de querer pegar no que nos fascinou no outro”, lá atrás no tempo, “e agora, numa segunda fase – de ambos –, estar-nos a fascinar outra vez”.



O apelo é sobretudo “químico”. “É uma coisa física, passa até pelas feromonas, o cheiro, o tacto. Parece que há pessoas que se deram bem fisicamente, e até psicologicamente, só que, por razões várias, terminaram a relação. Mas continuam a ter tendência bioquímica para se juntarem novamente”, esclarece, sublinhando que, quando o encontro acontece e elas estão mais maduras a nível psicológico, também são capazes de tirar maior partido desta química pessoal entre os dois. A química não foi suficiente à primeira, “provavelmente porque as pessoas não estavam preparadas psicologicamente uma para a outra. Não devemos esquecer que, numa relação, tudo é importante ”. Mas pode ser à segunda.



De acordo com o psicoterapeuta, depois “há factores de peso” que podem levar a esta (re)união no caso dos casais divorciados. “Se há filhos e se estes são menores, a força para que estas duas pessoas valorizem qualquer faiscazinha que surge na sua reaproximação é muito superior. Nos casos em que há negócios ou propriedades em conjunto, também há uma maior possibilidade disso acontecer. Finalmente, as proximidades geográfica e intelectual são igualmente potenciadoras. “O comungar interesses é também um factor muito importante. Há pessoas que se reaproximam mesmo por aí. Mas, no final, para continuar, é preciso que haja sempre a base de um desenvolvimento pessoal, uma maturação psicológica individual dos pares na separação, durante um tempo. E, claro, que exista a tal química. Caso contrário, estamos a falar de um reaproximar de amigos, não de paixão.”



Nas situações de namoro que se reatam muito tempo depois ou de paixões curtas que voltam a reacender-se, porque os seus protagonistas descobrem que nunca se esqueceram um do outro, o processo é um pouco diferente. Há mais mitificação, é o que garante o especialista. Mas pode igualmente resultar. “Não é preciso estar muito tempo com o outro para descobrir a paixão. Às vezes acontece mesmo o contrário: quanto menos tempo, mais mitificada a relação fica, restando apenas o mito. E o mito não tem lugar para a frustração.”



As duas situações extremas, ou seja, as mais longas e as mais curtas, “convocam mais as pessoas a unirem-se de novo. Aumentam a probabilidade de estas quererem apostar novamente na relação”, explica o especialista, esclarecendo que quanto mais tempo as pessoas tiverem em comum, mais importantes ficam uma para a outra.



Reencontros desta natureza já acabaram com muitos casamentos. A possibilidade de reatar um grande amor do passado torna-se o móbil de separações presentes. É o chamamento da química e da partilha de interesses a falar mais alto, mais uma vez. Ou não. “Por vezes, têm a ver com o avaliar da valorização da relação mitificada numa fase em que não estão a conseguir pensar, compreender e renovar em conjunto a relação actual”, comenta o psicoterapeuta. “Então parece que tudo o que vem extra, o que é mitificado, nomeadamente um amor antigo que não chegou a ser vivido e explorado, é muito melhor do que uma relação cheia de frustrações e desgaste que a actual tem – frustrações e desgastes, esses, que são normais no convívio entre duas pessoas, na linha do tempo”, esclarece. Só que, na realidade, por vezes “é apenas valorizado porque é diferente e porque está a ser mitificado numa comparação injusta com aquilo que já existe com o outro, feito com o desgaste físico da relação”.



Seja como for, as relações que recomeçam depois de um tempo de separação e de crescimento psicológico dos elementos do casal não estão isentas de dificuldades. No caso dos casamentos, se houve uma separação lá atrás no tempo, é porque existiram problemas em algumas áreas da relação. A situação mais problemática é quando existiu infidelidade de uma das partes. Quando ocorre este tipo de problema, “as pessoas reagem de uma forma mais emotiva e menos pensada”, e a separação, regra geral, também é mais emocional. Logo, também é muito “mais difícil as pessoas voltarem a viver juntas. Quando a separação é mais racional, é mais fácil as pessoas voltarem a tentar”.



A possibilidade de reatar um grande amor do passado torna-se o móbil de separações presentes.



De qualquer forma, “é inevitável” que o par fale sobre alguns problemas que ficaram lá atrás, que não ficaram resolvidos, “e, às vezes, até é difícil nomeá-los de novo”, defende Alexandre Nunes de Albuquerque, lembrando que é muito comum as pessoas reivindicarem direitos, lembrando o que não gostavam no outro. E ainda bem que assim é, garante.



Mas, por outro lado, a verdade é que estes casais partem com uma enorme vantagem, que é a de se conhecerem melhor. Tornam-se “mais tolerantes às falhas do outro”, pois também percebem que “se voltaram é porque algo muito forte os une”. Segundo o psicoterapeuta, o casal sente-se mais forte e unido. Há muitas hipóteses de, à segunda, ser de vez!



Formação do casal

Aqui ficam alguns sinais que poderão revelar dificuldades na formação do par, segundo Mcgoldrick & Carter. Mas os mesmos não devem ser encarados como determinantes para um eventual insucesso da relação, avisa Ana Paula Relvas no seu livro.



O casal encontra-se ou casa pouco tempo depois de uma perda significativa para um dos seus elementos ou para ambos



Um ou ambos querem distanciar-se da família de origem



Os backgrounds familiares de cada um são significativamente diferentes (educação, classe social, idade…)



O casal tem fratrias incompatíveis em termos de composição e do seu posicionamento



Reside demasiado perto ou há enorme distância das famílias de origem



O casal é financeira, física ou psicologicamente dependente das famílias de origem



O par casa antes dos 20 ou depois dos 30 anos



Casam-se depois de um conhecimento muito curto ou de um namoro muito longo



O casamento decorre na ausência da família e dos amigos



A mulher engravida antes ou durante os primeiros anos de casamento



Cada um dos elementos do casal tem um relacionamento pobre com os pais e irmãos



Os padrões conjugais das famílias extensas são bastante instáveis – grande número de divórcios ou separações, afastamentos físicos"



Fonte: Ciclo Vital da Família, de Ana Paula Relvas (Edições Afrontamento)

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